A PESAR DE MUITO HUMILDE
'Foi bom dormir numa cama e tomar café com pão e manteiga. Me senti mais digno', diz homem resgatado de trabalho escravo
Pedreiro, de 51 anos, comia a mesma comida dada aos porcos de propriedade rural em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense
Por Marcos Nunes — Rio de Janeiro
Retirado de uma situação análoga à escravidão, nesta segunda-feira, um pedreiro, de 51 anos, que se alimentava com a mesma comida dada a 18 porcos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, pensou que estivesse sendo preso ao ser resgatado de uma propriedade rural no Bairro de Austin, onde trabalhava cuidando dos suínos. Nesta terça-feira, o pedreiro acordou em um abrigo que funciona no Centro de Acolhimento da Rede Sócio assistencial do município. Depois de quase dois anos, tempo em permaneceu na propriedade em que foi encontrado, ele finalmente dormiu em uma cama de verdade e conseguiu tomar um banho de chuveiro.
— Não tomava banho de chuveiro havia mais de um ano. Lá, era só banho de balde com a água que pegava num vizinho . Foi bom dormir numa cama e tomei café com pão e manteiga. Me senti mais digno — afirmou.
Ele disse que se assustou com a chegada de homens da patrulha ambiental do município que o retiraram da situação que se encontrava. Os guardas o encontraram deitado em cima de um velho colchão, armado sobre três engradados plásticos, numa espécie de cama improvisada.
Morando numa espécie de quitinete inacabada de três cômodos, parcialmente destelhada e sem banheiro, o pedreiro disse ter pensado, durante a chegada dos patrulheiros, que se fosse preso poderia ao menos ter como vencer a fome.
— Tinha vez que eu não fazia nenhuma refeição. Então, comia da comida que era servida aos porcos. Pegava um pouco pra mim dos restos de frutas, legumes e arroz. Só tinha comida mesmo se eu conseguisse fazer um biscate e comprasse alguma coisa. Onde estava não recebia nada. Quando eles chegaram ( patrulheiros ambientais) pensei que fosse ser preso, mesmo sem ter cometido nenhum crime. Fiquei com medo, mas pensei que se isso fosse acontecer eu terei um lugar para onde comer e beber — disse.
'Pretendo dar a volta por cima'
O pedreiro disse não saber que estava sendo explorado e que o dono da propriedade, que acabou sendo preso pela polícia, não havia lhe prometido nada. Ele não recebia salário, mas em troca da moradia, cuidava dos porcos para o homem. Natural de Minas Gerais, o homem disse ter parentes no Rio, mas que quer dar a volta por cima sem dar trabalho a eles.
— Não é orgulho. Não quero dar trabalho. Pretendo dar a volta por cima. Já sei que não posso voltar para o local que estava. Ainda não sei como vai ser daqui pra frente. Mas, quero viver uma história nova — disse o pedreiro, que convive com problemas de saúde como hipertensão e uma ferida na perna que teima em não fechar. — Me tratava numa UPA. Também tenho sinusite. Minha ferida teve mais feia, mas agora está melhor.
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